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Crises económicas

 

No livro do Génesis do Antigo Testamento (Bíblia), vem narrado o Ciclo de José, a venda de José pelos irmãos, e a ida para o Egipto, onde, depois de sofrer vexames e prisões, foi tornado chefe da casa de faraó e governador do seu povo. Depois de sete anos de abundância, houve sete anos de fome, mas José tinha providenciado para que fossem guardados, por sua determinação, os produtos das terras que excederam as necessidades dos povos.

Foi assim possível ao Egipto vender o trigo que faltava nas outras nações.

E isto aconteceu aos primeiros povos que habitaram a terra.

As crises económicas nunca mais deixaram de acontecer. Chegaram e estão nos nossos dias. A História regista várias crises e anos de fome, provocada pela escassez da produção de cereais e por outras razões várias, como aconteceu nas duas guerras do Século XX.

1- A Ilha do Pico sofreu diversas crises provocadas por erupções vulcânicas, (1562-1572 e 1718-1720), crises sísmicas (1757), ciclones e enchentes de mar (1725, 1893,1936,1946).

A passagem das tropas liberais pela ilha do Pico (Abril de 1831) não deixou de provocar prejuízos avultados; a crise da laranja, da vinha, as revoltas populares e as incursões de piratas, igualmente.

Diversos “anos de fome” registam os historiadores açorianos. Todavia, não deixa de ser de interesse recordar a deliberação do Município lajense de 26 de Janeiro de 1861, que assim diz: “Foi deliberado enviar aos Deputados uma representação pedindo para que não sejam agravados os impostos pagos ao estado, tanto mais que a ilha se debate em grave crise por motivo do mal das vinhas que há 7 anos impestou (sic) toda a ilha que então contava 35.000 habitantes.”

É uma representação muito interessante e, aliás, bem redigida, nela vincando que a miséria, a fome, a desolação têm assoberbado toda a ilha.

E pede: “1 - Que enquanto o flagelo das vinhas se mantiver, seja a ilha isenta de impostos; 2 – Que lhe seja permitido contacto com os navios baleeiros e mercantes, autorizando os Administradores dos Concelhos para os precisos despachos, enquanto não forem criados os postos fiscais; 3 – Que, enquanto existirem aquelas circunstâncias, seja consignado no Orçamento do Estado uma verba de 5 contos, exclusivamente aplicada a obras públicas de maior e reconhecida necessidade da Ilha.”

Recordo o que se passou nas duas guerras de 1914-18 e 1939-45, com a escassez de produtos e a passagem de senhas de aquisição pela Administração do Concelho. Faltaram, principalmente na última, o açúcar, a farinha, o petróleo para iluminação. Tudo era racionado. A carne, a manteiga, a banha, o queijo, produzidos na ilha, eram negociados, pela “calada da noite”, com as embarcações que aportavam aos mais recônditos apeadeiros das costas da ilha, e tudo quase desaparecia... E tão grave era a escassez que a Administração do Concelho chegou a publicar edital proibindo a saída de géneros de primeira necessidade, até mesmo para o Faial!...   

2. -Nas décadas de 40 – 60 do século passado, esteve em laboração a Fábrica de Conservas de Peixe, instalada nesta vila pelo industrial Norberto Manuel Antunes, que, depois fez sociedade com outros industriais, daí resultando a  Constituição da Empresa de Conservas do Pico, Lda. Com a criação da indústria de conservas do atum, foram construídas cerca de trinta e duas traineiras, na ilha do Pico. O concelho das Lajes possuía ainda, em 1989,  17 traineiras que pescavam para a Cofaco, na Madalena. Mas tudo desapareceu. A conserveira faliu, os proprietários  da fábrica pouco tempo a mantiveram e hoje os edifícios existentes foram transformadas em residências e comércio. O resultado do encerramento foi funesto, principalmente, para o concelho e para a própria ilha. Mais de 200 trabalhadores foram despedidos, as traineiras vendidas a outros armadores instalando-se uma crise  tremenda. Valeu a emigração que, entretanto, se deu para o Canadá e Estados Unidos da América.

Hoje existem os bens de consumo. Os supermercados estão cheios, mas escasseia a moeda. Os despedimentos e o consequente desemprego arrastam os braços válidos para a miséria. Cada vez mais e até nalgumas ilhas, já aparecem os “sem-abrigo”. Multiplicam-se os movimentos de solidariedade mas insuficientes para debelar tão medonha crise. Há uma pobreza envergonhada que quase só vive da ajuda pública. Vão crescendo as instituições de caridade, mas são insuficientes para a miséria que vagueia pelas ruas das cidades, principalmente. E antes que essas instituições ou movimentos surgissem, melhor teria seria que, para os braços válidos se arranjasse trabalho, convenientemente remunerado, e desaparecesse o flagelo dos despedimentos, mesmo públicos, autêntica vergonha do século presente.

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